Nem sempre é fácil perceber todas as ramificações de uma doença. Dos sintomas ao diagnóstico, dos cuidados aos tratamentos, as dúvidas multiplicam-se e não é todos os dias que conseguimos um médico especialista que nos esclareça todas as questões. Abrimos a conversa a seis especialistas em dermatologia e em psoríase, que não deixaram nenhuma pergunta por responder. Esclareça todas as dúvidas, os mitos e os preconceitos e conheça por dentro uma doença que é mais do que aquilo que se vê.
É uma doença de pele que pode surgir de forma localizada ou de forma generalizada. Na essência, é uma doença imunomediada, isto é, resulta de um erro no sistema imunitário que favorece o seu aparecimento.
A pele é o órgão mais frequentemente afetado mas, nas formas consideradas moderadas a graves, a doença psoriática pode envolver outros órgãos e sistemas do corpo humano.
PEDRO MENDES BASTOS
Médico dermatologista
É uma doença crónica, que se caracteriza pelo estado inflamatório multissistémico – extensível a todo o organismo –, que pode também envolver as articulações e a componente cardiometabólica.
Evolui de acordo com a suscetibilidade genética de cada indivíduo vir a ter a doença (a carga hereditária), exposição e agressividade dos fatores desencadeantes e com o equilíbrio da resposta imunoinflamatória do organismo.
PAULO FERREIRA
Médico dermatologista
A evolução é imprevisível e extremamente variável de caso para caso. A maioria das pessoas, felizmente, tem formas estáveis que tendencialmente serão limitadas e não progredirão. Por outro lado, existem pessoas nas quais a doença pode aumentar em extensão e tornar-se progressivamente mais agressiva, mais difícil de tratar. De momento, não existem análises ou exames que permitam prever a evolução, mas sabemos que o excesso de peso e a obesidade são fatores que conferem um pior prognóstico, pelo que a promoção de um estilo de vida saudável é essencial.
PEDRO MENDES BASTOS
Médico dermatologista
Entre os fatores desencadeantes mais prevalentes relevo as agressões físicas – traumatismos – e químicas da pele, as infeções locais e sistémicas, agudas ou crónicas, desequilíbrios hormonais e metabólicos, tabaco, álcool, stress e alguns medicamentos.
PAULO FERREIRA
Médico dermatologista
Existe relação genética, tendo sido já identificados vários genes e mesmo alterações de nucleótido preditoras de maior suscetibilidade para a doença e as suas comorbilidades.
PAULO FERREIRA
Médico dermatologista
A psoríase carateriza-se pelo surgimento de placas (manchas espessas ao toque) de cor rosada que libertam escamas esbranquiçadas. Envolve tipicamente o couro cabeludo, cotovelos ou joelhos, podendo também ser disseminada por toda a pele. Em outros casos, pode surgir apenas em áreas limitadas, como a área genital ou palmas das mãos e dos pés.
PEDRO MENDES BASTOS
Médico dermatologista
Pode surgir em qualquer idade (incluindo pediátrica), mas o mais habitual é aparecer entre as décadas de 20-30 ou 50-60. No início, pode haver envolvimento de uma área única de pele ou de várias em simultâneo. O diagnóstico da psoríase é clínico, isto é, depende da história clínica e do exame objetivo realizados pelo médico.
PEDRO MENDES BASTOS
Médico dermatologista
Cada vez mais se encara a psoríase como uma doença que pode atacar vários órgãos e sistemas, sendo a pele a ponta do icebergue. Este envolvimento de outros órgãos é particularmente verdadeiro para as formas moderadas a graves. O possível envolvimento das articulações, tendões e outras estruturas musculoesqueléticas (chamado artrite psoriática) bem como o aumento do risco de sofrer doenças cardiovasculares consideram-se, hoje em dia, comorbilidades, isto é, problemas de saúde associados à psoríase. Doenças do sistema nervoso como depressão ou ansiedade também são consideradas comorbilidades.
PEDRO MENDES BASTOS
Médico dermatologista
As crises de psoríase podem surgir no contexto de stress psicológico ou físico, infeções (classicamente infeções respiratórias altas), toma de alguns medicamentos ou qualquer traumatismo à pele (uma queimadura solar, por exemplo). Por vezes, não é possível identificar fatores agravantes.
PEDRO MENDES BASTOS
Médico dermatologista
Recomenda-se uma abordagem holística e multidisciplinar do doente, e da doença. Conhecer a base genética e estar atento às formas iniciais da doença, averiguando o histórico de casos na família.
PAULO FERREIRA
Médico dermatologista
O diagnóstico da psoríase é essencialmente clínico. É feito em consulta através da observaç ão das lesões. Em casos raros, pode ser necessária uma biópsia cutânea, se as lesões suscitarem dúvidas (por exemplo, em localizações pouco comuns ou apresentações menos frequentes como psoríase pustulosa). É importante também questionar o doente quanto aos antecedentes familiares de psoríase, uma vez que uma história familiar positiva aumenta a probabilidade desta doença.
PEDRO MENDES BASTOS
Médico dermatologista
O diagnóstico precoce é condição para início precoce de terapêutica adequada, evitando as repercussões psíquicas e biológicas que podem advir da evolução não controlada da doença.
MARIA JOÃO LOPES
Médica dermatologista
É importante por várias razões: para tranquilizar o doente e explicar a patologia, bem como a sua evolução; para instituir terapêutica adequada de forma atempada e permitir ao doente melhorar a sua qualidade de vida; para sensibilizar o doente para a monitorização de possíveis comorbilidades e seu tratamento (artrite, fatores de risco cardiovasculares, depressão).
FERNANDO MOTA
Médico dermatologista
O diagnóstico tão precoce quanto possível aumenta o sucesso terapêutico, sendo crucial continuar a informar sobre a doença e desmistificá-la, devendo sempre ser mantidas as recomendações do dermatologista (adesão terapêutica), evitando as recidivas e fracasso terapêuticos.
PAULO FERREIRA
Médico dermatologista
A principal dificuldade é explicar ao doente que se trata de uma doença crónica e que infelizmente ainda não tem cura. Também não é fácil para os doentes assimilarem que se trata de uma patologia com uma predisposição genética, não havendo uma outra “causa” para esses doentes terem a doença.
FERNANDO MOTA
Médico dermatologista
O mais rapidamente possível, por um especialista (dermatologista) com prática nesta patologia e nas suas diversas opções terapêuticas.
MARIA JOÃO LOPES
Médica dermatologista
Infelizmente ainda não, mas existem hoje em dia tratamentos muito eficazes para controlar a doença.
FERNANDO MOTA
Médico dermatologista
Existem vários tratamentos para a psoríase: tratamentos tópicos – espuma, pomada, solução, gel – que têm sido melhorados e que são cada vez mais eficazes, sobretudo nas formas ligeiras da doença; tratamentos sistémicos convencionais (comprimidos); tratamentos biológicos (injeções) e fototerapia.
FERNANDO MOTA
Médico dermatologista
Os doentes devem ser envolvidos na discussão do tratamento, uma vez que existem várias alternativas terapêuticas. Alguns dermatologistas defendem o conceito de “negociação terapêutica”. Diferentes situações se podem colocar, pelo que é necessário confirmar que a terapêutica que propomos a um doente tem condições de ser aceite, compreendida e executada. Uma boa relação médico-doente e uma primeira consulta um pouco mais demorada que o habitual são importantes para o sucesso.
PEDRO TORRES
Médico dermatologista
Teria de destacar os tratamentos biológicos. São tratamentos que revolucionaram verdadeiramente o tratamento da doença para os pacientes com formas moderadas e graves de psoríase. Para além de serem extremamente eficazes (capazes de “limpar” a pele mesmo em doentes graves), são também muito seguros, principalmente os mais recentes. No entanto, importa referir que são medicações indicadas para doentes com formas moderadas a graves da doença, e que não respondam satisfatoriamente ou não possam realizar os outros tratamentos disponíveis.
FERNANDO MOTA
Médico dermatologista
São fármacos desenvolvidos para atuar de forma muito específica na doença, bloqueando apenas alvos específicos que levam às manifestações da psoríase, e que por isso aliam uma elevada eficácia e uma segurança também muito elevada, nomeadamente na preservação da resposta imunitária destes doentes.
FERNANDO MOTA
Médico dermatologista
Permitiram devolver a qualidade de vida aos doentes com formas graves da doença, sem prejudicar outros aspetos da sua saúde (pela baixa incidência de efeitos laterais).
FERNANDO MOTA
Médico dermatologista
A atividade investigacional em torno dos mecanismos moleculares subjacentes à psoríase e a procura de novas abordagens terapêuticas permitiu que tenhamos disponíveis, à data, fármacos altamente seletivos e eficazes que permitem restituir a qualidade de vida perdida, melhorando a autoestima e a autoimagem, o impacto psicoemocional e social da doença, a saúde mental, a vida íntima e relacional, as limitações nas atividades da vida diária e na participação em atividades recreativas e desportivas, as queixas articulares e mesmo a produtividade laboral e a possibilidade de progressão na carreira dos doentes.
PAULO MORAIS
Médico dermatologista
PAULO MORAIS
Médico dermatologista
Os agentes imunobiológicos mais recentes permitem respostas de “pele limpa ou quase limpa” em mais de 70% dos doentes. Associadamente à sua eficácia significativa e sustentada em vários componentes da doença psoriática, estes fármacos pautam-se pela rapidez de ação, tolerabilidade e maior comodidade posológica (alguns deles com administração a cada 8 ou 12 semanas), com maior liberdade para os doentes, comparativamente aos tratamentos tópicos e à medicação oral. Caraterizam-se, também, pela facilidade na adesão ao tratamento, já que a administração envolve o simples manuseio de uma seringa, caneta ou dispositivo aplicador, que cada vez se tem tornado mais prático, indolor e confortável.
PAULO MORAIS
Médico dermatologista
Apesar de não estarem isentos de efeitos adversos, os biológicos são, de uma forma geral, bem tolerados e seguros, não havendo diferença significativa em relação às terapêuticas sistémicas convencionais. Em contraste com os fármacos tradicionais, não se evidencia toxicidade cumulativa nem interações medicamentosas com relevância clínica. Alguns dos efeitos laterais são previsíveis com base nos efeitos imunomoduladores/imunossupressores da terapêutica biológica, nomeadamente o aumento da incidência de infeções respiratórias e fúngicas (micoses). Dores de cabeça e articulares, diarreia, fadiga e reações no local de injeção não são incomuns. Contudo, grandes registos internacionais são consistentes em demonstrar o perfil de segurança superior dos biológicos mais recentes e emergentes, comparativamente aos primeiros agentes, que eram menos seletivos e precisos na sua ação. De facto, as taxas de infeções graves, neoplasias e eventos cardiovasculares major são baixas e estáveis ao longo do tempo.
PAULO MORAIS
Médico dermatologista
As primeiras terapêuticas sistémicas da psoríase foram quase sempre associadas a maiores riscos para o doente, o que levava sempre a ponderar cuidadosamente os riscos-benefícios. Hepatopatia e hiperlipidemia, cirrose e alterações hematológicas, nefropatia e hipertensão, eram sempre fator de preocupação, obrigando a consultas e exames complementares frequentes. Nos últimos 20 anos, têm vindo a aparecer os novos medicamentos biológicos (já com várias evoluções) que vieram abrir uma nova perspetiva terapêutica no tratamento da psoríase, com muito maior eficácia e segurança. O seu benefício deve ser avaliado pela melhoria das lesões cutâneas, diminuição do risco cardiovascular, melhoria da artropatia, diminuição dos quadros psiquiátricos, e melhoria da qualidade de vida. A abordagem pluridisciplinar da psoríase com cooperação de dermatologistas com médicos de outras especialidades é a mais interessante para a saúde do doente.
PEDRO TORRES
Médico dermatologista
A psoríase só por si não aumenta o risco de contrair covid-19, ou de que a infeção tenha um curso mais agressivo. No entanto, as comorbilidades mais prevalentes nas formas graves de psoríase (obesidade, hipertensão, doença cardiovascular) afetam e muito o desfecho da doença. As terapêuticas sistémicas específicas da psoríase, nomeadamente os medicamentos biológicos, não parecem aumentar o risco de infeção à luz dos dados atuais. Todas as vacinas anticovid-19 são extremamente eficazes na prevenção das formas graves da doença, e os doentes sujeitos às terapêuticas sistémicas da psoríase podem e devem ser vacinados.
PEDRO TORRES
Médico dermatologista
O sol faz bem à psoríase (na maioria dos casos), devendo ser doseado de forma progressiva e ajustado ao fotótipo do doente, envolvendo estratégia de fotoproteção tópica e sistémica, prevenindo o stress oxidativo. A competente hidratação da pele é fundamental, com reforço da função barreira da pele, conforto e alívio do prurido.
PAULO FERREIRA
Médico dermatologista
PAULO FERREIRA
Médico dermatologista
PAULO FERREIRA
Médico dermatologista
A adesão às terapêuticas, tópicas e/ou sistémicas, aumenta o sucesso das já excelentes e inovadoras opções disponíveis, adequadas a cada doente (abordagem personalizada), mantendo-o livre de lesões, integrado na família e sociedade, de bem com a vida e com retorno profissional e laboral (terapêuticas custo-efetivas). O conhecimento sobre esta e muitas outras doenças crónicas tem vindo a aumentar nas últimas décadas, permitindo dissipar e contornar dúvidas e mitos sobre a doença psoriática.
PAULO FERREIRA
Médico dermatologista
FERNANDO MOTA
Médico dermatologista
FERNANDO MOTA
Médico dermatologista
PEDRO TORRES
Médico dermatologista
PEDRO TORRES
Médico dermatologista
PEDRO TORRES
Médico dermatologista